Delivery de desejo e SAC de sex shop
Lojas de produtos eróticos adaptam atendimento e vêem números de vendas chegarem a cinco vezes mais

Como alternativa para sair da rotina, seja para quem tem uma companhia ou quem está sozinho, os produtos eróticos passaram a ser uma alternativa muito comum durante a pandemia e os números das vendas dos sex shops provam isso.
A quarentena afetou os relacionamentos e a vida sexual das pessoas. E, seja para os casais que estão convivendo mais juntos, aqueles que estão sem se ver, ou ainda para quem está solteiro, os itens foram uma solução para sair da rotina.
Em Salvador, as lojas do ramo precisaram se adaptar durante esse período, investindo nas vendas on line e em entregas por delivery, alcançando bons resultados nas vendas durante a quarentena.
Em entrevista com alguns representantes de sex shops e distribuidoras de produtos eróticos, foi possível identificar os motivos desse crescimento nas vendas e o que os casais e solteiros mais procuraram em termos de novidades para despertar desejos e testar curiosidades.

Produtos
ERÓTICOS
NA
PANDEMIA



Gabriela Sampaio, proprietária do sex shop Doce Deleite, consultora em saúde e educação sexual e estudante de Sexologia, viu os números aumentarem em suas vendas.
Ela explicou que, apesar das vendas terem aumentado em grande escala, alguns produtos, normalmente usados por casais, tiveram, especificamente, uma maior procura.
“A venda de vibradores, incluindo o de casal, foi muito maior. Os mais vendidos antes da pandemia eram os vibradores bullets, é um vibrador de custo baixo e fácil manuseio. Nesse momento, estão sendo vibradores rotativos e para casal”, explica Gabriela.
Ela ainda acrescenta que, com o aumento da procura pelos produtos da loja durante a quarentena, foi preciso adaptar e ampliar a forma de entregar as compras aos seus clientes.
“As vendas aumentaram bastante. Na pandemia fomos obrigados a trabalhar com delivery, entregando no conforto do lar, contratamos serviço de 2 empresas terceirizadas de motoboys”, contou.
Gabriela ressalta que o formato de comércio on-line foi uma opção desde o início da empresa, há seis anos, possibilitando preços mais baixos e maior descrição para as pessoas que tivessem interesse em comprar.
Ela conta que, antes da quarentena, era comum fazer as entregas pessoalmente, marcando com os compradores em locais como shoppings ou estações de metrô.

Lucros e investimentos
Dona do sex shop Secret Box, Jéssica Ribeiro também relatou que os vibradores foram recorde de vendas nos últimos meses e que o lucro foi significativo. “As vendas estão um sucesso! Houve aumento nas compras e nós dobramos o faturamento, praticamente”, relatou a proprietária.
Sobre as adaptações para atender os clientes durante a pandemia, Jéssica comentou as mudanças que precisaram ser feitas, tanto para oferecer melhor experiência para os compradores, quanto para garantir a segurança sanitária.
“Suspendemos os atendimentos presenciais e lançamos o nosso site, onde as pessoas podem escolher os produtos com mais facilidade e comodidade em casa, pois lá tem todas as opções com descrição, valores e fotos”, explicou.
“Priorizamos as entregas delivery e sempre tomamos todos os cuidados, desde uso de máscara, higiene das mãos e embalagens antes da entrega, até da máquina do cartão, antes e após o uso de cada cliente”, complementou.
A loja e distribuidora Doce Veneno, que possui tanto loja física, quanto atendimento virtual, também registou um aumento de vendas que não era esperado. Comparando a saída de produtos entre 2019 e 2020, os resultados superaram as expectativas.
“De março até junho, as vendas triplicaram de uma forma que me surpreendeu. No mês de junho, chegamos a vender 300% a mais que no mesmo período do ano passado”, comentou Ingrid Reis, representante da marca.
Durante parte do período de isolamento, no qual o comércio esteve suspenso na capital baiana por causa da pandemia, Ingrid explicou que a Doce Veneno ficou alguns meses somente com atendimento on-line.
"Na pandemia trabalhei em casa com delivery e retornamos a loja física uma semana após o Dia dos Namorados", contou.
O motivo das vendas
Tanto para Gabriela, quanto para Jéssica e Ingrid, o aumento da venda dos produtos teve grande influência no fato das pessoas terem passado muito tempo com seus companheiros ou sozinhas e, com isso, despertaram curiosidades sobre seus corpos e suas relações, assim como a vontade de sair da rotina.
“Muitas vezes as pessoas não tinham tempo e agora podem explorar mais a sexualidade juntos e introduzir brinquedos eróticos na relação”, explicou a dona da Secret Box.
“Uma vez que entram nesse mundo, não querem mais sair, viram clientes fiéis, porque reacende muitas vezes um sexo que já tinha caído na rotina”, completou Jéssica.
A representante da Doce Veneno comenta que muitas pessoas tiveram curiosidade, pela primeira vez, de explorar sua sexualidade e sensualidade nesse período e, por isso, decidiram se descobrir, fazendo uso dos itens eróticos.
“Eu acredito que as vendas aumentam porque as pessoas querem novidades em casa, sejam as solteiras ou as casadas, foi uma forma encontrada para distrair, inovar no casamento e se conhecer melhor sozinho, já que, por exemplo, muitas mulheres compraram seu primeiro vibrador na pandemia”, observou.
Gabriela, da Doce Deleite, frisa ainda que, para os casais, a introdução de um brinquedo sexual na relação geralmente é intermediada pelo diálogo antes da compra e que o aumento da convivência em casa, durante a quarentena, aproximou as pessoas que tinham interesse em testar coisas novas com seus parceiros.

“Um produto de sex shop é algo que agrega à relação do casal porque, com ele, vem o desejo. Não é simplesmente a pessoa gostar de transar ou gostar da parceria, porque é necessário e importante ter um desejo e um produto sensual dá uma ajudinha”, ressalta.
“Às vezes, só da cliente comprar uma bolinha ou um gel comestível, isso já aumenta o desejo. É como quando compramos uma roupa nova, sempre queremos usar logo. O mesmo acontece com os produtos sensuais. Isso é do ser humano. A expectativa de usar o produto aumenta o desejo”, explica a consultora.
“O produto não é só aquilo que ele promete, ele aumenta o desejo, curiosidade, e isso trabalha com o psicológico. Então, um produto de sex shop sempre mexeu com a rotina e sempre melhorou a relação dos casais”, comentou.